Ártico

quinta-feira, 16 de abril de 2009

[PLANETA] O mito do Carbono Neutro


Meu papel aqui é desmistificar, dar a famosa “pilulinha vermelha” para vocês verem o outro lado da Matrix. Assim, tropecei com o livro “The Carbon Neutral Myth: Offset indulgences for your climate sin” de Kevin Smith, que defende com fatos uma tese interessante: assim como a Igreja vendia indulgências na Idade Média, o mercado de carbon offsets (ou neutralização de carbono) está se transformando em algo semelhante, com as empresas comprando o direito de poluir ao invés de investir em medidas efetivas de redução das emissões – perseguir o carbono zero. Veja bem: não emitir CO2 é diferente de compensar emissões plantando mudas de árvores ou outras providências, que apaziguam as empresas com seus acionistas e consumidores e enriquecem os agentes intermediadores, mas podem gerar graves desequilíbrios sociais que ficam escondidos.

O grupo Coldplay, através da Carbon Neutral Company (CNC), neutralizou as emissões da produção e distribuição de seu álbum em 2002 com a plantação de 10.000 mudas de manga em Karnataka/Índia, que iriam gerar sustento para a comunidade local. Fãs também foram encorajados a comprar mudas que levariam seu nome. Resultado: sem fertilizantes, dinheiro e água para os agricultores manterem as mudas, a maioria delas morreu. Rolling Stones, U2, Brad Pitt & Angelina Jolie são outras celebridades que frequentemente se engajam em projetos “furados”, crentes que estão ajudando, mas no fundo desviando a atenção da opinião pública dos resultados desastrosos.

A British Airways e a British Gas ganharam créditos de carbono por um projeto de eficiência energética numa favela da Cidade do Cabo/África do Sul, onde os habitantes receberam lâmpadas econômicas, mal tendo renda para se sustentar e consumo que gerasse efetivo desequilíbrio ecológico. Na região de Elgon/Uganda, atividades tradicionais como criação de gado e extração de lenha foram tornadas ilegais para dar lugar a plantações que interessavam a projetos de neutralização, gerando êxodo da comunidade local.

Se quiser saber mais, o livro tem download em www.carbontradewatch.org

Um comentário:

Antonio Radi disse...

Pois é, Patrícia:

Sobre o assunto, abaixo reproduzo parcialmente o artigo intitulado "Hipocrisia Orquestrada", redigido por Maurício Gomide Martins:

(...)
"Certa vez, respondendo a alguém que me perguntou quais os custos e benefícios do desenvolvimento sustentável, argüimos que, para a atividade econômica, há os benefícios do marketing, um recurso de ordem psicológica de massa, cujo filão é explorado atualmente à custa do real sofrimento da Natureza. Isso equivale a passar anestesiante num enfermo para que sinta menos dor nos cortes de lhe fazemos em suas carnes. Para o planeta Terra, é evidente que os custos são a morte, e os benefícios… bem, depois da morte, não há benefícios. Que benefício se poderia esperar de ações tão mortais? Para se ter uma idéia sobre o que está oculto e enganador sob o manto da expressão “desenvolvimento sustentável”, citamos alguns dados de uma reportagem da revista Carta Capital, de 15.10.2008, tendo como título “O verde e a cor dos negócios”. Informa a reportagem que 80% das grandes empresas realizam alguma atividade em favor do meio ambiente, baseadas em que o comportamento “verde” exerce influência favorável aos seus negócios, pois capta entre os consumidores uma preferência psicológica de simpatia e colaboração. Numa pesquisa, apurou-se que 52% dos empresários entendem que o comportamento “verde” influencia o mercado. Os resultados práticos tabulados, segundo a mesma pesquisa, indicam que atitudes ambientais (superficiais e inócuas, diga-se de passagem) trazem uma “imagem positiva” para a empresa, que se traduz em maiores lucros. Heloísa Torres de Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, organização que estimula o consumo consciente, deu longa entrevista à publicação “Isto É”, da qual retiramos a seguinte informação: “de acordo com uma pesquisa da instituição, o número de consumidores, que no ano passado privilegiaram empresas com boas práticas sócio-ambientais em suas decisões de compra, cresceu 7% em relação ao estudo anterior, de 2003.” Resumo: postura ambientalista por parte das corporações econômicas é ótima atitude de publicidade e constitui um eficiente instrumento-fim. E as pessoas bem intencionadas, mas desconhecedoras da profundidade do problema ambiental, são enganadas por essas hábeis ações de maquiagem."
(...)

A íntegra do artigo pode ser acessada através do link abaixo:

http://novosmaias.blogspot.com/2009/02/o-mito-do-desenvolvimento-sustentavel.html

Um abraço,

Antonio