Ártico

quinta-feira, 29 de março de 2012

FRITJOF CAPRA: DO CRESCIMENTO MECÂNICO À CO-EVOLUÇÃO



Um sopro de ar fresco é a melhor descriçao da palestra de Fritjof Capra no evento organizado ontem pelo Santander, sobre Educação Ecológica (ecoliteracy) e Crescimento Qualitativo. Oitocentas pessoas na platéia e transmissão online (quem quiser assistir na íntegra entre em http://v3.webcasters.com.br/visualizador.aspx?CodTransmissao=66122).

Autor premiado de “O Tao da Física” e “Ponto de Mutação”, professor em Berkeley (EUA) e no arrojado Schumacher College (UK), Capra sempre foi ás em fazer conexões sofisticadas para defender uma nova consciência voltada à sustentabilidade. Alguns conceitos que usa não são novos (Ecologia Profunda, visão ecossistêmica/holística, serviços ambientais, FIB – Felicidade Interna Bruta), mas ele consegue ir um passo além ao propor formas concretas de disseminá-los e incorporá-los no sistema econômico e na vida das pessoas.

As principais idéias que apresentou:

A falácia do crescimento eterno
O modelo de desenvolvimento mecanicista se baseia na ilusão de que é possível crescer ilimitadamente num planeta finito; é irracional a crença dos economistas num crescimento econômico perpétuo e linear num ambiente não linear, o que acaba causando distorções no mercado. Ex: se o preço do combustível fóssil computasse os custos de guerras por petróleo e poluição, ele precisaria ser muito maior. Onde está esse custo? Externalizado. Tudo que não é monetário (como impacto social, litigação e guerras) não é contabilizado. O PIB mede acúmulo de bens à custa de grande custo de energia, destruição e resíduos. O marketing turbina o consumismo e gera desperdício e lixo.

Olhar Sistêmico
A economia é um sistema, não um objeto. É uma teia de relações, logo métricas quantitativas não conseguem capturar essa dinâmica de flexibilidade, resiliência e adaptação que caracteriza um ecossistema. Os indicadores atualmente usados (PIB, IDH) estão obsoletos. É preciso buscar na Teoria da Complexidade novas possibilidades, como o mapeamento, a observação de padrões não-lineares. Mudar a visão de evolução tradicional, pois na natureza os seres não competem, mas cooperam; a visão ecológica de sustentabilidade é construir e cultivar comunidades vivas, num processo dinâmico de co-evolução.

Crescimento Qualitativo
Na natureza, algumas partes crescem enquanto outras morrem, liberando seus recursos para o crescimento de outros seres. É o processo natural. A saúde da economia deveria ser medida por um mapeamento das inter-relações, criar indicadores/coeficientes mais subjetivos que não podem ser expressos apenas por um número. Nossa economia deveria ser de regeneração e evolução da qualidade de vida. O pensamento parasitário de consumo excessivo e incessante não é viavel sob o ponto de vista da natureza e nos levou à crise financeira de 2008. Ex: células cancerosas crescem indiscriminadamente e acabam matando o organismo que as sustenta.  (a esse respeito, ler artigo de Capra e Hazel Henderson “Qualitative Growth” em www.fritjofcapra.net).

Precisamos ser capazes de distringuir o bom e o mau crescimento:
Mau = externalizar custos sociais, degradação dos ecossistemas, miséria, doenças, geração de resíduos
Bom = eficiências produtivas como reciclagem, regeneração de biomas, energias limpas, novos materiais inteligentes, produção em ciclo fechado com zero resíduo.

Na Rio+20 vários intelectuais e economistas apresentarão um documento conjunto de propostas para essa nova abordagem econômica, que exige mudança de modelo mental.

No próximo post, as opiniões de Capra sobre o que é uma Cidade Sustentável.

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