Ártico

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

[PLANETA] Botando um $$PREÇO$$ na Natureza


Há tempos prometi escrever sobre Serviços Ambientais (“ecosystem services”), a vanguarda da Sustentabilidade: valorar monetariamente a contribuição dos ecossistemas à humanidade e às empresas. Ou seja, incorporá-la às decisões gerenciais e ao cálculo dos balanços financeiros. Não se ouviu outra coisa da boca dos economistas na última reunião do Inst. Ethos, Ricardo Abramovay e Sergio Besserman.

Embora seja lindo pensar a Sustentabilidade como resultado de um grau elevado da consciência humana (ética), essa revolução se dará é pela via da Gestão de Risco. Exemplo: um negócio se torna inviável economicamente no longo prazo caso dependa muito de água e os mananciais sequem, ou o custo de tratá-los seja enorme. Simples assim.

A essa conclusão chegaram empresas como Dow, Coca-Cola e SABMiller. A Dow destinou U$ 10 milhões para uma parceria com a TNC (The Nature Conservancy) como um “investimento no futuro da empresa” (palavras do CEO Andrew Liveris), preparando-a para leis mais restritivas e escassez de recursos. Investiu U$ 1,5 milhões num projeto em S.Paulo de preservação do reservatório Cachoeira (Serra da Cantareira), que diminuirá em 60% os sedimentos a serem filtrados lá adiante. Sem contar os ganhos sociais, da biodiversidade e reputacionais.

A Coca-Cola já investiu U$ 30 milhões em projetos ligados à água, reduzindo em 31% o uso na fabricação de suas bebidas. A SABMiller gastou U$ 700 mil na Colômbia e espera reaver o investimento em 5 anos, com a redução dos custos de tratamento de água.

Estudo da Goldman Sachs (2007) correlacionou empresas líderes em políticas de sustentabilidade a uma performance superior no mercado acionário. A revista Nature (1997) estimou em U$ 33 trilhões o valor dos ecossistemas (florestas, oceanos, ar, regulação do clima, benefícios culturais e recreativos). Baseou-se no quanto o público estaria disposto a pagar por serviços ambientais como tratamento de resíduos ou despoluição. O PIB mundial é hoje de U$ 60 trilhões.

Mas essa conta não é simples. Quando se tenta valorar coisas como biodiversidade ou fruição da natureza, é grande a subjetividade. Mas esse é um caminho sem volta. Um sistema de governança global está no horizonte, com leis que farão as empresas internalizarem no custo dos produtos os impactos nos ecossistemas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

[DIGITAL] Singularidade - quando as máquinas serão melhores que os humanos


Nunca tinha ouvido falar mas levei um susto: SINGULARIDADE - o momento em que a fronteira entre a inteligência artificial e a orgânica será apagada, e a capacidade intelectual das máquinas ultrapassará a de toda a humanidade somada. Previsto para 2045, por Raymond Kurzweil, famoso cientista que é considerado por Bill Gates o maior especialista em inteligência artificial do mundo. "A coisa mais importante que acontecerá aos seres humanos desde a invenção da linguagem", diz a revista Time.


O nome foi tirado da astrofísica - um ponto do espaço-tempo onde as leis da física comum não se aplicam mais (como nos buracos negros). Tanto a Lei de Moore (número de transistors que se pode colocar num chip) quanto a regra de Kurtzweil (quantidade de poder computacional - milhões de instruções por segundo - num determinado tempo, que se pode comprar por U$ 1,000) geram uma curva exponencial semelhante, cujo valor dobra a cada 2 anos. Essa aceleração nunca mudou nem com guerras ou crises econômicas. É típico dessas curvas começarem lentas e depois se acelerarem cada vez mais até o infinito. Difícil de processar na nossa cabeça, já que estamos acostumados a pensar linearmente.


Em meados de 2020, já poderemos fazer engenharia reversa da mente humana. Computadores poderão criar e apreciar arte, tomar decisões éticas, fazer piadas e até mesmo substituir os cientistas no processo de desenvolvimento tecnológico, com sua capacidade de processar gigantescas quantidades de dados sem esforço.


Surge, naturalmente, todo tipo de teoria: que as máquinas vão nos dominar e aniquilar; que iremos nos fundir a elas como cyborgs, aumentando nossa capacidade física; que ajudarão a prolongar a vida humana, driblando o envelhecimento; que escanearão nossa consciência e viveremos dentro dos computadores indefinidamente, como numa matrix de realidade virtual.


O assunto é sério, transdisciplinar (informática, neurociência, biologia, nanotecnologia, sociologia, medicina etc) e para isso Kurtzweil criou a Singularity University em 2008, patrocinada pela NASA e o Google, entre outros. Em 2045 a quantidade de inteligência artificial criada será aproximadamente um bilhão de vezes a soma de toda a inteligência humana existente hoje. Uau ! O que vai ser de nós é a pergunta que todos estão se fazendo. Se a internet já mudou tanta coisa em tantos níveis (relações descartáveis, transferências de poder, interculturalidade, transparência, processos colaborativos de conhecimento e produção...) imagine a ruptura que a Singularidade nos trará !


Quer saber mais? "The Singularity is near" (Kurtzweil, 2005), "The coming technological Singularity" (Vernor Vinge, 1993) e revista Time ed. 21/fev/2011 em "2045 - The Year Man becomes immortal". No Youtube veja http://www.youtube.com/watch?v=kJDvdEQJOew, (que termina com a provocação: "será que sobreviveremos à nossa tecnologia?") e milhares de outros filmes sobre o tema.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011




Comunicação Fractal - esse é o termo que define o novo tipo de comunicação em tempos de redes sociais, consumo colaborativo, blogs e produção de conteúdos wiki no recém-lançado livro Comunicação Integrada de Marketing (Editora FGV), que vai além: ao invés de oferecer respostas, instiga o leitor a se fazer um monte de perguntas, acreditando que já não existem mais fórmulas definitivas, pelo menos nessa área.

Fractais (do latim fractus, fração) são objetos geométricos que podem ser subdivididos em partes, cada uma semelhante ao original - ou auto-similares. Podem ser gerados por um padrão repetido, um processo recorrente ou interativo. Fractais naturais estão à nossa volta, nas nuvens, montanhas, rios e seus afluentes, os sistemas de vasos sanguíneos e os feixes nervosos.


Exatamente como vivemos hoje o ambiente da comunicação: as empresas não são mais as donas do discurso, mas meras participantes das milhares de conversas. O "prossumidor" (produtor-consumidor) quer formatar produtos e conteúdos a quatro mãos, o antigo paradigma praticado pelas empresas em P&D de confidencial = vantagem competitiva dá lugar a processos abertos e colaborativos, como alavancagem para maior velocidade de inovação e melhores soluções. Se possível em beta-perpétuo, ou seja, o formato final jamais está pronto, e sim em constante evolução.

O ROI (retorno sobre investimento) dá lugar ao ROE (retorno sobre engajamento ou envolvimento), onde se buscam formas de medir aspectos mais subjetivos e as correlações entre as estratégias transmídia (múltiplas plataformas); onde os custos de aquisição de um cliente por meio de ações de comunicação e marketing pervertem qualquer lógica tradicional - esforços baratíssimos geram resultados gigantes; grandes investimentos (por ex em campanhas publicitárias) cada vez menos dão o retorno esperado. Os profissionais da área estão perdidos, e só sabem uma coisa: o que valia antes já não vale mais. Difícil fazer planejamento e justificar-se perante a diretoria, não?

Para saber mais, só lendo o livro mesmo, disponível em http://www.editora.fgv.br/?sub=produto&id=413
COMUNICAÇÃO INTEGRADA DE MARKETING
Autores: Patricia Riccelli Galante de Sá, Marie Haim, Ricardo de Castro e Vera Waissman
Editora FGV, 2010