Ártico

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Museu do Inhotim: deslumbrante "viagem" para os seis sentidos

Galeria Adriana Varejão (arq. Rodrigo Cerviño Lopez)
Parafraseando o jornalista Ricardo Freire: trata-se da melhor viagem que você nunca fez. Você já leu a respeito, ouviu dos amigos, viu entrevista na TV, chega com a mais alta das expectativas mas ainda assim vai sair deslumbrado. É o que acontece com todo mundo. E é uma vergonha o quão pouco nós valorizamos um empreendimento sem paralelo no mundo, uma utopia do empresário Bernardo Paz que está dando certo ! Tudo é superlativo por lá: investimento inicial de US$ 250 milhões de próprio bolso, 500 ítens de 97 artistas no acervo, 200 mil visitantes/ano, 700 funcionários predominantemente da comunidade local, R$ 22 milhões/ano em despesas de manutenção e projetos socioambientais, 18 galerias, 24 obras espalhadas ao redor de 5 lagos, 4500 espécies vegetais formando a maior coleção viva do Brasil e a de palmeiras do mundo.
Magic Square #5 (Hélio Oiticica)

O lugar é quase indescritível, porque cada um vai vivenciá-lo à sua maneira. A experiência acontece em várias camadas: visual - a beleza e os detalhes do paisagismo de Burle Marx, das obras artísticas e da arquitetura criativa e arrojada das galerias e pavilhões; os caminhos propositalmente tortuosos e orgânicos, para que cada um construa sua rota pessoal, sem nada pré-determinado; os recantos escondidos para descanso ou que descortinam uma obra que o olho não percebeu; olfativa - os aromas inebriantes ora de eucalipto, ora de lírios, de mata molhada ou de alguma comida sendo preparada; as "obras sonoras"- sinfonias e cacofonias de 15 a 30 minutos às quais é preciso permitir tempo para fruir, numa altíssima qualidade de som; tátil - as variadas texturas de plantas, gramados e instalações que se pode tocar e percorrer por dentro, como andar sobre estilhaços de vidro ou descalço em carpetes felpudos, mergulhar em piscinas ou pular em blocos de espuma; gustativa - bons restaurantes e lanchonetes com comida bem feita que vai da pizza e do cachorro quente aos pratos gourmets.

Recanto:  3 camadas horizontais de plantas espetadas por palmeiras
Inhotim também joga o visitante numa experiência metafísica: é preciso entrar de mente aberta para questionar o próprio conceito do que é ou não arte. Obras que à primeira vista parecem bobagens são ressignificadas quando se lê na ficha técnica a intenção do artista por trás da criação, ou se assiste o filme do making of. Tudo faz sentido, e a curadoria tem clara orientação para uma arte engajada com temática social, política e ambiental. Por exemplo, o filme De Lama Lâmina mostra uma performance perturbadora do artista Matthew Barney com o músico Arto Lindsay em Salvador, cujos elementos foram trazidos para exposição permanente num pavilhão feito sob medida.
Performance De Lama Lâmina em Salvador

Ou a poderosa escultura Beam Drop com vigas de ferro gigantes atiradas numa piscina de concreto fresco por um guindaste 45m acima (filme no YouTube).

Beam Drop de Chris Burden

Os caminhos não-lineares são feitos para "quebrar" os pré-conceitos, e de repente o olho ficou mais afiado, começa a reparar nos detalhes naturais ou artificiais à sua volta, o visitante é jogado num outro nível de consciência onde começa a querer interagir com o espaço e produzir arte. Seja no enquadramento das fotos, seja em "viagens" mentais de como o lugar se prestaria para uma performance, plantar vasinhos de tempero e flor, abraçar uma árvore ou sentar-se num dos vários bancos de troncos majestosos para contemplar a paisagem e ouvir a sinfonia de pássaros e o apito da Maria Fumaça ao longe. Muito doido, mas fato facilmente verificável, seja observando os demais turistas, seja fuçando as milhares de fotos postadas na web pelos visitantes.

Já estava me achando o próprio Pollock dos trópicos

Inhotim é a prova viva de que a arte é uma linguagem universal. Gente de todas as classes sociais, nacionalidades, grupos de amigos, excursões ou famílias, todo mundo fazendo sua "viagem". E de que se pode sonhar. Estão a caminho nos próximos três anos mais galerias e pavilhões que irão dobrar o número de obras do acervo, uma pousada-boutique e um centro de convenções. Os imóveis em Brumadinho já se valorizaram 300% desde o surgimento do museu, transformado em OSCIP (Organização Sócio-Cultural de Interesse Público), facilitando a captação de recursos externos.

Para visitar a infra atual, reserve 2 dias. Futuramente, só Deus sabe: talvez comecem a vender passes de múltiplos dias. Melhor investimento: por mais R$ 10,00 você tem direito ao transporte interno em carrinho elétrico para as maiores (e demoradas) distâncias. Tudo a 70km de Belo Horizonte. Está na hora de fazer essa viagem. 

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