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Galeria Adriana Varejão (arq. Rodrigo Cerviño Lopez) |
Parafraseando o jornalista Ricardo Freire: trata-se da
melhor viagem que você nunca fez. Você já leu a respeito, ouviu dos amigos, viu entrevista na TV, chega com a mais alta das expectativas mas ainda assim vai sair deslumbrado. É o que acontece com todo mundo. E é uma vergonha o quão pouco nós valorizamos um empreendimento sem paralelo no mundo, uma utopia do empresário Bernardo Paz que está dando certo ! Tudo é superlativo por lá: investimento inicial de US$ 250 milhões de próprio bolso, 500 ítens de 97 artistas no acervo, 200 mil visitantes/ano, 700 funcionários predominantemente da comunidade local, R$ 22 milhões/ano em despesas de manutenção e projetos socioambientais, 18 galerias, 24 obras espalhadas ao redor de 5 lagos, 4500 espécies vegetais formando a maior coleção viva do Brasil e a de palmeiras do mundo.
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Magic Square #5 (Hélio Oiticica) |
O lugar é quase indescritível, porque cada um vai vivenciá-lo à sua maneira. A
experiência acontece em várias camadas:
visual - a beleza e os detalhes do paisagismo de Burle Marx, das obras artísticas e da arquitetura criativa e arrojada das galerias e pavilhões; os caminhos propositalmente tortuosos e orgânicos, para que cada um construa sua rota pessoal, sem nada pré-determinado; os recantos escondidos para descanso ou que descortinam uma obra que o olho não percebeu;
olfativa - os aromas inebriantes ora de eucalipto, ora de lírios, de mata molhada ou de alguma comida sendo preparada; as "
obras sonoras"- sinfonias e cacofonias de 15 a 30 minutos às quais é preciso permitir tempo para fruir, numa altíssima qualidade de som;
tátil - as variadas texturas de plantas, gramados e instalações que se pode tocar e percorrer por dentro, como andar sobre estilhaços de vidro ou descalço em carpetes felpudos, mergulhar em piscinas ou pular em blocos de espuma;
gustativa - bons restaurantes e lanchonetes com comida bem feita que vai da pizza e do cachorro quente aos pratos
gourmets.
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Recanto: 3 camadas horizontais de plantas espetadas por palmeiras |
Inhotim também joga o visitante numa experiência
metafísica: é preciso entrar de mente aberta para questionar o próprio conceito do que é ou não arte. Obras que à primeira vista parecem bobagens são ressignificadas quando se lê na ficha técnica a intenção do artista por trás da criação, ou se assiste o filme do
making of. Tudo faz sentido, e a curadoria tem clara orientação para uma
arte engajada com temática social, política e ambiental. Por exemplo, o filme De Lama Lâmina mostra uma performance perturbadora do artista Matthew Barney com o músico Arto Lindsay em Salvador, cujos elementos foram trazidos para exposição permanente num pavilhão feito sob medida.
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Performance De Lama Lâmina em Salvador |
Ou a poderosa escultura Beam Drop com vigas de ferro gigantes atiradas numa piscina de concreto fresco por um guindaste 45m acima (filme no YouTube).
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Beam Drop de Chris Burden |
Os caminhos não-lineares são feitos para "quebrar" os pré-conceitos, e de repente o olho ficou mais afiado, começa a reparar nos detalhes naturais ou artificiais à sua volta, o visitante é jogado num outro nível de consciência onde começa a querer
interagir com o espaço e produzir arte. Seja no enquadramento das fotos, seja em "viagens" mentais de como o lugar se prestaria para uma performance, plantar vasinhos de tempero e flor, abraçar uma árvore ou sentar-se num dos vários bancos de troncos majestosos para contemplar a paisagem e ouvir a sinfonia de pássaros e o apito da Maria Fumaça ao longe. Muito doido, mas fato facilmente verificável, seja observando os demais turistas, seja fuçando as milhares de fotos postadas na web pelos visitantes.
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Já estava me achando o próprio Pollock dos trópicos |
Inhotim é a prova viva de que a arte é uma linguagem universal. Gente de todas as classes sociais, nacionalidades, grupos de amigos, excursões ou famílias, todo mundo fazendo sua "viagem". E de que se pode sonhar. Estão a caminho nos próximos três anos mais galerias e pavilhões que irão dobrar o número de obras do acervo, uma pousada-boutique e um centro de convenções. Os imóveis em Brumadinho já se valorizaram 300% desde o surgimento do museu, transformado em OSCIP (Organização Sócio-Cultural de Interesse Público), facilitando a captação de recursos externos.
Para visitar a infra atual, reserve 2 dias. Futuramente, só Deus sabe: talvez comecem a vender passes de múltiplos dias. Melhor investimento: por mais R$ 10,00 você tem direito ao transporte interno em carrinho elétrico para as maiores (e demoradas) distâncias. Tudo a 70km de Belo Horizonte.
Está na hora de fazer essa viagem.
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