Ártico

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

[PLANETA] Produtos Eco-Inamistosos nem chegam à gôndola


Quem me conhece sabe que não acredito no consumidor como mola-mestra para a adoção da responsabilidade socioambiental pelas empresas. Para mim o papel de corrigir os impactos dos produtos tem que ser do fabricante, e o de “editar” as gôndolas para nós, dos varejistas. Por um motivo simples: nós consumidores NÃO TEMOS condição de resgatar toda a cadeia produtiva de cada item que colocamos no carrinho de compras. É um levantamento demorado, complexo e o máximo que podemos checar é se existe um selo/certificação/tabela qualquer validando a correção ecológica do produto. Isso se a gente enxergá-los, o que é mais provável não acontecer (por razões cognitivas amplamente estudadas pela sociologia e comunicação).

Já elogiei num artigo anterior (16/06/09) o avanço que representou a adesão dos maiores varejistas do país (Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour, depois seguidos pela ABRAS), aos Pactos da Carne e da Soja. O golpe de misericórdia foi o estudo do Greenpeace “A Farra do Boi”, levantando toda a cadeia produtiva da carne e a relação direta dela com o desmatamento da Amazônia, instrumentalizando as empresas com fatos, para fazerem exigências aos fornecedores de carne, ração e produtos afins. Resultado: no dia 05 de outubro, com a presença do Governador do Mato Grosso e o maior plantador de soja do mundo, Blairo Maggi, foi assinado em São Paulo o Protocolo de Moratória da Carne. Nele, grandes frigoríficos como JBS Friboi, Marfrig e Bertin se comprometem a não comprar mais carne oriunda de desmatamento ou área de preservação. Mato Grosso abriga o maior rebanho bovino do país (mais de 28 milhões de cabeças, chegando a 30 milhões em 2010). Então é isso: se o varejista fecha suas portas aos eco-inamistosos de toda espécie, os fornecedores/fabricantes vão ser obrigados a se mexer.

A sustentabilidade passa necessariamente pela inovação – o novo desafio é fazer diferente, menos nocivo e de melhor qualidade, como já percebeu a indústria de eletrônicos, que avança a passos largos. E o Governo vai começar a obrigar a consideração dos custos sócio-ambientais nos balanços financeiros e no preço dos produtos (Lei do Berço ao Túmulo, taxação das emissões de CO2 e por aí vai...)

E que papel cabe a nós, os clientes?

1) mudar nossa postura de desperdício (reciclar, reutilizar, reformar)
2) adotar a cultura do “chic simple” (valorizar menos embalagens, menos frufrus, refil)
3) usar os objetos até o limite de sua vida útil efetiva (incorporar o vintage, o imperfeito, o objeto carregado de simbolismo e história)
4) empoderar as ONGs para fazerem estudos como os do Greenpeace e denunciarem as empresas alienadas
5) desconfiar de preços excessivamente baixos (quando a esmola é muita...)
6) preferir “experiências” (fruição; processo dinâmico) em detrimento de “objetos” (posse; circunstância estática)
Do jeito que vamos, onde até já estamos até "consumindo gente" (mas isto é assunto para outro post futuro), não iremos chegar muito longe.

4 comentários:

Anônimo disse...

Patricia, bom dia;

Gostaria de fazer alguns comentários a respeito da chamada “Farra do Boi” denunciada pelo Greenpeace.

Trabalho numa empresa que atua na área de embalagens, e sou o responsável pelo atendimento ao setor de Frigoríficos. Fornecemos a 2 empresas envolvidas nas denúncias: JBS-Friboi e Bertin, que há poucos dias se uniram.

Acho importante a atuação de organizações como o Greenpeace e concordo com muitas de suas ações. O propósito de sua existência, o de proteger o meio-ambiente, é sem dúvida muito nobre e primordial para o futuro do planeta. Porém algumas vezes este propósito acaba camuflando atitudes impensadas e cheias de más intenções. Uma delas que todos devem lembrar ocorreu neste ano com a paralisação da ponte Rio-Niterói, o que acabou gerando uma enorme poluição (devido aos carros andando por horas em marcha reduzida) e um constrangedor pedido de desculpas feito pelo próprio Greenpeace.

No caso dos frigoríficos, a divulgação feita pelo Greenpeace foi planejada, e, acredito, de má fé. Ao contrário do que foi divulgado ao mundo todo, nenhum quilo da carne produzida na Amazônia é exportado para a União Européia. E isso ocorre por questões sanitárias, e não por problemas ambientais como afirmou a ONG. Poucos dias antes do estardalhaço feito pelo Greenpeace, o IBAMA e o Ministério Público vistoriaram frigoríficos no estado do Pará e entregaram 14 autos de infrações às empresas. Com base nestes autos, sem que tenha sido dado às empresas o direito de defesa, o Min. Público obteve a lista de clientes do Bertin e deu a eles 10 dias de prazo para decidirem se comprariam carnes desses fornecedores ou não. Os fornecedores não cometeram crime e os clientes, acuados e vendo uma oportunidade para pressionar o preço, resolveram não comprar mais carne daquela região. Sem que houvesse prova ou defesa por parte dos frigoríficos.

Além disso, a bandeira levantada pela ONG de que os grandes grupos como Bertin, JBS e Marfrig são os grandes responsáveis pelo desmatamento da Amazônia no Pará é leviana. Estas empresas são vistoriadas e habilitadas a exportação, somando apenas cerca de 15 unidades produtoras. Em todo o estado do Pará, porém, existe uma enorme quantidade de frigoríficos menores e clandestinos, os quais certamente respondem pela maioria absoluta da área devastada.

Esta denúncia do Greenpeace foi mal intencionada e acabou paralisando a operação de várias unidades, o que, obviamente, afetou o emprego de muita gente. Isso não foi divulgado. Se já não foi aberto, um processo contra o Greenpeace feito pelas Associações do Setor será encaminhado ao MP.

Grupos como Wall-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar também saíram ganhando, pois a história serviu de mote para pressionar os preços revisar contratos de fornecimento.

Outros pontos divulgados no mundo por algumas ONGs:

a)Para burlar a fiscalização, o gado criado em áreas de desmatamento no Pará estaria sendo movimentado por terra para áreas legais. Quem conhece o estado do Pará sabe que isso só seria feito se o gado aprendesse a nadar.

b)Todo o gado brasileiro é criado na Amazônia... Sem comentários.

Qualquer ação contra o meio ambiente deve ser penalizada e divulgada, mas de acordo com a lei vigente em cada país. Precisamos tomar cuidado e evitar que algumas ONGs internacionais financiadas sabe-se lá por quem simplesmente joguem sujeira no ventilador, prejudiquem empresas sérias e causem a demissão de muitas pessoas saiam de cena impunes, e ainda causando a impressão de estarem fazendo um bem enorme ao mundo.

Um abraço;

Tomás Scarparo
Signode Brasileira - ITW Shippers tscarparo@signode.com.br

Norton disse...

Patrícia,

Não podemos esquecer o papel fundamental do governo neste processo.

Anônimo disse...

Patrícia,

Excelente reflexão. Também concordo que não pode ficar só para nós, consumidores, toda essa responsabilidade de arcar com os custos e nos esforçarmos pelo consumo mais responsável.

A mídia prega o uso de eco-bags mas não menciona (ou o faz de maneira bastante tímida) o fato de que existem sacolas feitas de material reciclado e bio-degradável, muito mais "eco-friendly" que as sacolas de péssima qualidade que são usadas pelas cadeias varejistas em geral. Sacolas de qualidade tão baixa que o consumidor é obrigado a utilizar duas ou três para que não veja suas mercadorias caindo pelo caminho de volta para casa.

O crédito-fácil e o "dinheiro-barato" são responsáveis pela enorme quantidade de carros que vemos circulando nas ruas, e a cada dia mais. O governo fala em manter empregos em montadoras, mas não se preocupa em investir em ciclovias/ciclofaixas ou transporte de massa. Isso também geraria empregos. O trabalhador de uma montadora poderia ser treinado e aproveitado na indústria de trens ou metrôs. O mesmo esforço empregado na construção de estradas poderia ser canalizado para a construção de ciclovias, bicicletários, etc.

Concordo com toda a questão do consumo consciente. O fato é que estamos (felizmente ou infelizmente) no topo da pirâmide e temos informação e poder aquisitivo para escolher melhor. A grande massa de consumidores não tem essa oportunidade: eles simplesmente consumirão o mais barato. E é nesse momento em que o papel das empresas passa a ser mais importante, não deixando que tais produtos cheguem às gôndolas.

É realmente um assunto muito interessante e para longas discussões...

Um abraço,

Henrique Araujo
haraujo@gmail.com
MBA UFRJ - GE 15 Barra

Anônimo disse...

Estava essa semana procurando drivers pra minha placa mãe (computador) e achei super legal o site da Asus adotar práticas sustentáveis.

atenciosamente

Julio Beckhausen Jr.

(NOTA DA EDITORA: "ASUS QUALIFICA PLACAS-MÃE COM EuP MARK PARA APOIAR AS PRÁTICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS" - Notícia de 08/10/2009 no site da Asus)