Que atire a primeira pedra quem não recebe "plim-plim" de notificações várias vezes ao dia... A "indústria da distração" está cada vez mais presente na nossa vida - ficamos conectados direto, com nossos smartphones, tablets e laptops recebendo avisos de postagens no Face, no WhatsApp, Snapchat, Skype, SMS etc.
Antes de mais nada, vamos entender como funciona a psicologia humana: se houver chance, tendemos a interromper o que estamos fazendo a cada três minutos. Paramos de digitar uma página word para checar novos emails, ou dar uma olhada no mural da rede social, ou consultar um site. Muitas dessas interrupções não têm nada a ver com a tarefa que estava sendo executada. Nossa produtividade (e até nosso cérebro, leia mais adiante) está sendo devastada pelas interrupções não-convidadas, especialmente se desviam nossa atenção para outro assunto que nada vai agregar ao trabalho original.
Um estudo da Microsoft indicou que os programadores que eram interrompidos por alertas de chegada de email perdiam dez minutos toda vez que desviavam de sua tarefa original, além do tempo que a mensagem levava para ser respondida. Colaboradores chegam a perder 40% de seu tempo produtivo quando são interrompidos regularmente. Óbvio: leva um tempo para se desligar do assunto anterior, se concentrar no novo e voltar ao antigo - quando não se desvia para outras direções totalmente.

Apesar disso, a tendência da tecnologia voltada para o consumidor é fornecer interrupções cada vez mais frequentes e eficazes. Em 2009 foi introduzida a notificação por push nos celulares. Antes disso, somente mensagens de texto apareciam na tela. Hoje, qualquer aplicativo pode emitir algum sinal sonoro ou musiquinha de alerta, e não só nos smarthphones e tablets, mas também nosso laptop. Agora mesmo, enquanto eu escrevia esta postagem, já apareceram quatro notificações do Face e um plim-plim do WhatsApp. Como a curiosidade mata... é preciso ter nervos de aço para não sucumbir - e confesso que o do celular eu olhei!
Verdadeiros impérios corporativos foram erguidos sobre a notificação por push, razão para que aplicativos de mensagem como WhatsApp e Snapchat funcionem, e eles são essenciais para engajar as pessoas com serviços como Facebook e Twitter. Neste último, usuários que visitam o site ou abrem o aplicativo pelo menos uma vez ao mês checam o serviço uma dúzia de vezes ao dia. No caso do Face, ele representa 20% do tempo que um americano médio usa seu celular (fonte: comScore). Será que o tempo seria tão grande se nossos aparelhos não ficassem nos mandando alertas toda vez que há alguma atividade em nossas redes? Quanto mais entrarmos, mais veremos os anúncios e forneceremos dados comportamentais para esses serviços.

E só vai piorar: os smart-relógios usando Android do Google vibrarão toda vez que o usuário receber alguma notificação em seu celular - e se ele estiver configurado para dar alertas de emails, postagens e calendários, o pulso vai tremer dezenas ou até centenas de vezes ao dia! O Google Glass vai dar um flash das notificações bem diante dos seus olhos. E o novo sistema operacional do iPhone promete transformar esses alertas em sistemas ainda mais sofisticados de interrupção, permitindo interagir com os aplicativos lá mesmo nos alertas, sem nem desbloquear o celular.
Você deve estar pensando: mas basta configurar para desligar essas notificações. Só que não é tão fácil assim. A FOMO (Fear of Missing Out), é uma das novas doenças "tecnológicas", já que temos medo de perder alguma informação ou oportunidade interessante se não estivermos acessíveis em tempo real. Em alto grau da neurose, a pessoa se sente angustiada, tem mais de um aparelho, não desconecta nunca e jamais se acha suficientemente informada sobre tudo que todos estão fazendo em todos os lugares, o tempo todo. Os usuários de redes sociais já pressupõem que os outros estejam online direto. Não é comum um amigo mandar convite em cima da hora ou recado importante usando Face ou WhatsApp, certo de que você vai ler imediatamente?
O custo dessas interrupções é alto. Segundo os neuropsicólogos, o cérebro fica sem "combustível", glucose, quando temos que operar cognitivamente tarefas pesadas, como exercitar o auto-controle diante de uma grande tentação. Exatamente o que as inúmeras notificações nos impõem, com maior ou menor sucesso, ao longo de um dia. Tanto faz sucumbir ou não à leitura, igualmente gastamos a glucose. E novamente quando nos sentimos desconcentrados ou atrasados para executar as tarefas importantes.
Não há nada de errado com a tecnologia. Como sempre, é o USO que fazemos dela, os limites que impomos para nosso próprio bem. Ao invés do cérebro travar dezenas de batalhas de auto-controle ao dia, que tal apenas uma escolha binária: estar ou não conectado em alguns momentos que nos sirvam de "respiro" (a hora da ginástica? da aula? de assistir um filme? de jantar com amigos? de transar?). Pense nisso.
Fonte: livremente adaptado de Wall Street Journal, por Christopher Mims, em http://online.wsj.com/articles/say-no-to-the-distraction-industrial-complex-1404081926