Nota pública do Instituto Ethos
Diante do noticiário sobre suposto cartel em licitações de trens e metrôs, vimos esclarecer a natureza da parceria que desenvolvemos com a Siemens.
Nas últimas semanas, a imprensa tem veiculado uma série de notícias acerca da investigação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a respeito do suposto cartel em licitações de trens e metrôs em diferentes Estados do Brasil, que envolve empresas como Alstom, a Bombardier, a CAF, a Mitsui e a Siemens, entre outras.
O Instituto Ethos vem a público esclarecer a natureza da parceria que desenvolvemos desde 2010 com a Siemens, por meio do Siemens Integrity Initiative para financiamento do projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios. Essa parceria tem como objetivo buscar acordos de integridade com empresas e compromissos de transparência com governantes, além de oferecer ferramentas para ações coletivas de monitoramento e controle social sobre os investimentos públicos, especialmente os destinados à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada e Paraolimpíada de 2016. As contas do projeto Jogos Limpos são auditadas anualmente por uma consultoria independente (BDO) e estão à disposição do público em:
O que é o Siemens Integrity Initiative
Após ser comprovado o envolvimento de seus executivos em casos de subornos internacionais até 2007, a Siemens global celebrou, em julho de 2009, um acordo com o Banco Mundial para, entre outras ações, criar um fundo de financiamento de projetos de combate à corrupção nos diversos países do mundo, num total de US$ 100 milhões a serem gastos em 15 anos. Esse fundo chama-se Siemens Integrity Initiative. No primeiro semestre de 2010, foi realizada a primeira chamada pública para apresentação de projetos pelas organizações não governamentais. Aproximadamente 300 ONGs de 66 países se apresentaram, inclusive o Instituto Ethos.

As atuais revelações divulgadas pela imprensa a respeito da ação do Cade não questionam e nem invalidam o programa Siemens Integrity Initiative, uma vez que os fatos ora divulgados ocorreram antes de 2007 e estão entre as razões que motivaram a criação dessa iniciativa global da empresa.
Ações do Instituto Ethos em favor da integridade e de combate à corrupção
1. Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção
Em 2006, como forma de reagir às denúncias de empresas que participavam do que se convencionou chamar de “mensalão”, o Ethos e várias organizações multilaterais e da sociedade civil criaram o Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, um compromisso voluntário que as empresas assumem para aprofundar a ética e a transparência nas relações entre si, com o mercado e com o setor público. As organizações que ajudaram a articular esse Pacto junto com o Instituto Ethos foram: o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC); o Pacto Global da ONU, a Patri Políticas Públicas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Fórum Econômico Mundial. A Alston e a Siemens estão entre 349 signatárias dessa iniciativa. Para se manterem no pacto, as empresas e entidades de classe signatárias precisam responder anualmente um questionário de 70 perguntas que pede evidências de que elas estão pondo em prática os compromissos assumidos. Conheça a lista de empresas signatárias neste link.
2. Grupo de Trabalho Empresas pela Integridade
Foi criado em 2007 pelas mesmas entidades que instituíram o Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, com o objetivo de promover a troca de experiências entre as empresas signatárias, em suas ações de implantação de sistemas de compliance e gestão de risco voltadas à promoção da integridade e combate à corrupção, e para propor o aperfeiçoamento das políticas públicas de promoção da integridade e da transparência. São 43 empresas participantes do GT, a Alstom e a Siemens entre elas.
3. Cadastro Empresa Pró-Ética
Lançado em 9 de dezembro de 2010, para marcar o Dia Mundial de Combate à Corrupção, o Cadastro Nacional de Empresas Comprometidas com a Ética e a Integridade – Cadastro Empresa Pró-Ética – é uma iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Instituto Ethos para avaliar e divulgar as empresas voluntariamente engajadas na construção de um ambiente de integridade e confiança nas relações comerciais, inclusive naquelas que envolvem o setor público. Para fazer parte desse cadastro, a empresa precisa preencher um questionário que exige documentos comprobatórios para cada resposta dada. Caso apresente todos esses documentos e seu nome não conste do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS), ela poderá fazer parte do Cadastro Pró-Ética.
Ao aderir ao Cadastro Empresa Pró-Ética, a organização assume o compromisso público e voluntário, perante o governo e a sociedade, de que adota medidas para prevenir e combater a corrupção dentro de sua instituição, em favor da ética nos negócios. O cadastro possui um comitê gestor formado pela Controladoria-Geral da União (CGU), Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Confederação Nacional de Indústrias (CNI), Federação Brasileira de Bancos (Febraban), BM&F Bovespa, Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Instituto de Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Até o momento, quinze empresas foram aceitas no cadastro: 3M do Brasil, AES Eletropaulo, AES Sul, AES Tietê, Banco do Brasil, Banco Santander do Brasil, Caixa Econômica Federal, Celesc, CPFL Energia, Dudalina, Duratex, Siemens, EDP Energias do Brasil, Infraero e Johnson Controls Building Efficiency.
Ao longo dos últimos dois anos, o Ethos divulgou posicionamentos, mobilizou empresas e sociedade civil e participou de audiências públicas na defesa da transparência pública e da responsabilização civil da pessoa jurídica. Com isso, contribuiu para a aprovação de duas leis importantes para o avanço da transparência e do combate à corrupção: a Lei de Acesso à Informação Pública (nº 12.527/11) e a Lei Anticorrupção Empresarial (nº 12.846/13), sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 1º de agosto de 2013.
O Instituto Ethos apresentou em 2008, durante reunião do Conselho Nacional de Transparência Pública e Combate à Corrupção da Presidência da República, proposta oriunda da Conferência Ethos para a criação de uma legislação com os mesmos objetivos da Lei nº 12.846. Essa lei pode ajudar a impedir que questões como as que estão sendo denunciadas pela imprensa se repitam, ao punir diretamente as empresas pegas em atos de corrupção, e não os funcionários envolvidos.
No caso da Lei de Acesso à Informação Pública, também acompanhamos a regulamentação nos Estados e municípios que receberão jogos da Copa.
5. Consocial
O Instituto Ethos participou ativamente da convocação e da organização da 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social (Consocial), integrando a Comissão Organizadora Nacional (CON), presidida pela Controladoria-Geral da União (CGU).
6. Jogos Limpos (principais resultados)
Em seus três anos de atividade, o projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios conseguiu alguns resultados importantes, vários deles noticiados nas mídias locais, nacional e internacional:
6.1. A constituição e manutenção dos Comitês Locais nas doze cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Esses comitês reúnem quase uma centena de entidades da sociedade civil, empresas, entidades de classe e órgãos de controle externo e interno. Organizam atividades públicas, debates e oficinas sobre transparência e participação social, além de dialogar com os poderes públicos locais (Estado e município).
Os dados levantados nas oficinas e diálogos ajudaram a construir os Indicadores de Transparência Municipais e Estaduais. Essas atividades, por outro lado, garantiram a diminuição de famílias despejadas pelas obras da Copa e a participação social na regulamentação local da Lei de Acesso à Informação e no monitoramento dos orçamentos nas cidades-sede.
6.2. Participação do Ethos, desde a criação, em 2011, da Câmara Temática de Transparência da Copa do Mundo de 2014, que tem como objetivo desenvolver soluções para garantir a transparência e a publicidade das ações preparatórias para o Mundial da Fifa. Essa câmara é composta por representantes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios que participam do evento como cidades-sede, além de entidades da sociedade civil.
6. 3. Obtenção do compromisso público com a transparência municipal de todos os prefeitos eleitos em 2012 nas cidades-sede da Copa 2014. Neste momento, estamos em diálogo com todas essas prefeituras, para ampliar e aperfeiçoar os seus mecanismos de transparência.
6. 4. Lançamento, em novembro de 2012, durante a Conferência Internacional de Combate à Corrupção (IACC), realizada em Brasília, dos Indicadores de Transparência Municipal,com os resultados apurados nas onze cidades-sede mais o Distrito Federal.
Esses indicadores medem a transparência das informações, verificam a existência e funcionamento dos canais de informação e dos mecanismos de participação e servem de estímulo e referência ao aperfeiçoamento desses mecanismos.
6.5. Aplicação nos Estados das cidades-sede da mesma metodologia, já que várias obras e investimentos são de responsabilidade dos governos estaduais, como consta na Matriz de Responsabilidades. Os resultados foram publicados em junho deste ano.
