Ártico

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Entendendo a polêmica de Belo Monte

Esta semana as redes sociais ficaram inundadas de ativismo de um grupo de artistas de TV com filme e petição contra a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará (http://wwwmovimentogotadagua.com.br). Criticados como mal informados e catastrofistas por uns, elogiados por outros. Mas qual a verdade, afinal?



Bom, 40% da energia mundial é baseada em carvão. No Brasil temos a sorte de poder contar com uma energia mais "limpa", a hídrica, maior potencial do mundo. Embora 80% de nossa eletricidade venha dessa fonte, só usamos 30% do potencial, cuja metade está na Amazônia. Daí o projeto do governo de construir 28 usinas até 2017, sendo 15 na bacia amazônica (entre elas Belo Monte - 11mil megawatts) e 13 na Tocantins/Araguaia (já iniciadas Santo Antonio e Jirau - 6.400 megawatts).



O setor industrial consome 30% da energia produzida no país, e esse é visto como nosso gargalo: mais crescimento, mais demanda energética. Sem dúvida as empresas precisam perseguir um modelo de consumo de energia mais eficiente, o que não é fácil nem rápido. Da geração de Belo Monte, só 10% são destinados à indústria, o resto irá para o consumidor, e sua produção já está toda pré-vendida. A Eletrobras arca com 50% do investimento, e os demais acionistas investiram R$ 500 milhões. O projeto foi redimensionado para ser o menos ambientalmente agressivo, e ainda assim o megawatt/h vai custar R$ 78,00 contra R$ 140,00 da energia termoelétrica ou eólica.

Então onde está o problema? Bem, ao diminuir a área alagada (ou seja, a captação de chuvas e de rios), mais da metade do ano a planta será improdutiva. Decisão por conta da usina de Balbina, que transformou uma enorme planície em um cemitério de floresta que emite 10 vezes mais gás de efeito estufa (metano) que uma termoelétrica e só produz míseros 240 megawatts. Outro problema é que 360 pessoas em 11 municípios predominantemente indígenas do Rio Xingu serão desalojadas e enfrentarão um bioma afetado (peixes, nível dos rios - leia-se enchentes - incluindo a vazão dos afluentes). Toda usina traz, ainda, uma população de fora (os trabalhadores) que incharão municípios praticamente sem infraestrutura, gerando desagregação social e cultural, violência e prostituição. A ênfase na proteção da cultura indígena não é desprezível, apesar dos números desfavoráveis (360 "gatos-pingados" contra 120 milhões de brasileiros).

Os gestores do projeto e governantes garantem que Belo Monte leva em conta os efeitos sociais e ambientais, e os mitigou até o limite máximo da viabilidade financeira da usina. Ainda assim ela será eficiente, já está com sua produção pré-vendida, vai custar mais caro para os investidores e mais barato para os consumidores. Como já vimos este filme muitas vezes, é de se ficar cabreiro. Uma das razões atribuídas pelo próprio Itaú para ganhar o título de banco mais sustentável do mundo é ter declinado de investir em Belo Monte. Como a lei de crimes ambientais brasileira co-responsabiliza o investidor nas multas, indenizações e custos de recuperação de áreas degradadas dos projetos financiados, e o Itaú tem 2 empresas do grupo listadas no DJSI (carteira sustentável da Bolsa de NY), é de se imaginar que os economistas e analistas do banco estejam fazendo gestão de risco - afinal onde já se viu banqueiro perdendo dinheiro?

Assim, cabe a você pesar prós e contras antes de decidir. Eu sou pelo princípio da precaução e acredito em usar a inventividade para buscar soluções melhores (eólica, solar), daí assinei a petição. Outros seguem a linha do desenvolvimentismo e preferem acreditar na boa fé e expertise dos planejadores e gestores de Belo Monte. Fica na mesa do boteco e na tela do computador a discussão.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Museu do Inhotim: deslumbrante "viagem" para os seis sentidos

Galeria Adriana Varejão (arq. Rodrigo Cerviño Lopez)
Parafraseando o jornalista Ricardo Freire: trata-se da melhor viagem que você nunca fez. Você já leu a respeito, ouviu dos amigos, viu entrevista na TV, chega com a mais alta das expectativas mas ainda assim vai sair deslumbrado. É o que acontece com todo mundo. E é uma vergonha o quão pouco nós valorizamos um empreendimento sem paralelo no mundo, uma utopia do empresário Bernardo Paz que está dando certo ! Tudo é superlativo por lá: investimento inicial de US$ 250 milhões de próprio bolso, 500 ítens de 97 artistas no acervo, 200 mil visitantes/ano, 700 funcionários predominantemente da comunidade local, R$ 22 milhões/ano em despesas de manutenção e projetos socioambientais, 18 galerias, 24 obras espalhadas ao redor de 5 lagos, 4500 espécies vegetais formando a maior coleção viva do Brasil e a de palmeiras do mundo.
Magic Square #5 (Hélio Oiticica)

O lugar é quase indescritível, porque cada um vai vivenciá-lo à sua maneira. A experiência acontece em várias camadas: visual - a beleza e os detalhes do paisagismo de Burle Marx, das obras artísticas e da arquitetura criativa e arrojada das galerias e pavilhões; os caminhos propositalmente tortuosos e orgânicos, para que cada um construa sua rota pessoal, sem nada pré-determinado; os recantos escondidos para descanso ou que descortinam uma obra que o olho não percebeu; olfativa - os aromas inebriantes ora de eucalipto, ora de lírios, de mata molhada ou de alguma comida sendo preparada; as "obras sonoras"- sinfonias e cacofonias de 15 a 30 minutos às quais é preciso permitir tempo para fruir, numa altíssima qualidade de som; tátil - as variadas texturas de plantas, gramados e instalações que se pode tocar e percorrer por dentro, como andar sobre estilhaços de vidro ou descalço em carpetes felpudos, mergulhar em piscinas ou pular em blocos de espuma; gustativa - bons restaurantes e lanchonetes com comida bem feita que vai da pizza e do cachorro quente aos pratos gourmets.

Recanto:  3 camadas horizontais de plantas espetadas por palmeiras
Inhotim também joga o visitante numa experiência metafísica: é preciso entrar de mente aberta para questionar o próprio conceito do que é ou não arte. Obras que à primeira vista parecem bobagens são ressignificadas quando se lê na ficha técnica a intenção do artista por trás da criação, ou se assiste o filme do making of. Tudo faz sentido, e a curadoria tem clara orientação para uma arte engajada com temática social, política e ambiental. Por exemplo, o filme De Lama Lâmina mostra uma performance perturbadora do artista Matthew Barney com o músico Arto Lindsay em Salvador, cujos elementos foram trazidos para exposição permanente num pavilhão feito sob medida.
Performance De Lama Lâmina em Salvador

Ou a poderosa escultura Beam Drop com vigas de ferro gigantes atiradas numa piscina de concreto fresco por um guindaste 45m acima (filme no YouTube).

Beam Drop de Chris Burden

Os caminhos não-lineares são feitos para "quebrar" os pré-conceitos, e de repente o olho ficou mais afiado, começa a reparar nos detalhes naturais ou artificiais à sua volta, o visitante é jogado num outro nível de consciência onde começa a querer interagir com o espaço e produzir arte. Seja no enquadramento das fotos, seja em "viagens" mentais de como o lugar se prestaria para uma performance, plantar vasinhos de tempero e flor, abraçar uma árvore ou sentar-se num dos vários bancos de troncos majestosos para contemplar a paisagem e ouvir a sinfonia de pássaros e o apito da Maria Fumaça ao longe. Muito doido, mas fato facilmente verificável, seja observando os demais turistas, seja fuçando as milhares de fotos postadas na web pelos visitantes.

Já estava me achando o próprio Pollock dos trópicos

Inhotim é a prova viva de que a arte é uma linguagem universal. Gente de todas as classes sociais, nacionalidades, grupos de amigos, excursões ou famílias, todo mundo fazendo sua "viagem". E de que se pode sonhar. Estão a caminho nos próximos três anos mais galerias e pavilhões que irão dobrar o número de obras do acervo, uma pousada-boutique e um centro de convenções. Os imóveis em Brumadinho já se valorizaram 300% desde o surgimento do museu, transformado em OSCIP (Organização Sócio-Cultural de Interesse Público), facilitando a captação de recursos externos.

Para visitar a infra atual, reserve 2 dias. Futuramente, só Deus sabe: talvez comecem a vender passes de múltiplos dias. Melhor investimento: por mais R$ 10,00 você tem direito ao transporte interno em carrinho elétrico para as maiores (e demoradas) distâncias. Tudo a 70km de Belo Horizonte. Está na hora de fazer essa viagem. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Amor ao Planeta: Amor ao Planeta agora no Facebook

Amor ao Planeta: Amor ao Planeta agora no Facebook

Amor ao Planeta agora no Facebook

Venha "Curtir" a página do Amor ao Planeta no Facebook. Tudo de interessante que recebo mas não dá tempo de postar no blog eu compartilho no perfil. Assim fica mais fácil ler rapidinho as manchetes e resumos, mandar para amigos e manter-se por dentro do que há de mais atual em sustentabilidade, comunicação digital e reputação corporativa.


Espero vc por lá ! Divulgue, porque só a educação e a informação poderão transformar o mundo num lugar melhor pra nós e nossos filhos viverem.

[DIGITAL] Oportunidade de saber + sobre Comunicação Digital


Divulgue por aí e, se puder, compareça. No próximo dia 24/novembro estarei em SP participando de um workshop que debaterá a Comunicação no Mundo Digital promovido pela Tamer Conhecimento. A idéia foi juntar diversos especialistas em mídias sociais, reputação corporativa, gestão de marcas e comunicação digital para debater planejamento, engajamento, gerenciamento de crises (este será o meu tema) e branding nesse novo ambiente desafiador.

Terei como colegas de workshop nomes importantes do mercado - como Pyr Marcondes (M&M), Débora Fortes (Época Negócios), Clayton Melo (Isto É Dinheiro), Marcos Hiller e Liliane Ferrari (Trevisan), blogueiros e consultores em mídia digital.

Programa

08h - Welcome Coffee
Abertura
A Importância do Planejamento de Comunicação Integrado
Parte I – Dados que você precisa conhecer
Universo Digital: Onde estamos e para onde vamos?
O papel do RP no Mundo Digital
A Nova Palavra de Ordem: Engajamento
Networking Coffee
Parte II – Palavra de quem vive o tema na prática
Debate - O Impacto das Mídias Sociais na Comunicação
Almoço
Parte III – Gestão de Crises Online
Gestão de Crises - Conceitos
Crises nas Mídias Sociais
O Que Fazer?
Debate
Networking Coffee
Parte IV – Branding
Gestão de Marcas nas Mídias Sociais
Gestão de Branding no Mundo Digital
Debate
Encerramento

Local: Auditório da ABAC na R. Avanhandava, 126 / 1º andar, Centro, São Paulo.


Mais informações em http://www.tamerconhecimento.com.br/mail/001_20111107/001_20111107.html
 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

[ECO] Consumidor está valorizando mesmo as eco-moradias?

Até que ponto as construções sustentáveis vão "pegar" no mercado? Coincidentemente, no dia em que almocei com Romeo Bussarelo em SP (Dir.Marketing da premiada/admirada Tecnisa), o Estadão publicou que o Brasil é o 4o país com mais prédios sustentáveis. Mas nem tudo é tão simples assim, como ele me explicou.

Pense: quantos prédios têm intrínsecos processos de economia de água e energia, eco-materiais, coleta seletiva de lixo, iluminação ou regulação térmica naturais? As construtoras precisam urgentemente  matricular esse assunto de forma mais contundente nos seus empreendimentos. Cyrela, Gafisa, Brooksfield e congêneres até por demanda legal atuam bastante nos canteiros de obra (uso da água, reciclagem de entulho, alfabetização dos operários) mas deixam muito a desejar na "inteligência" dos projetos de engenharia/arquitetura. Ando envolvida com o projeto Barra Sustentável (www.sheraton-barra.com.br/barrasustentável ), por conta da imensa expansão imobiliária da região que tornou-se a fronteira de crescimento do Rio. Moro num empreendimento da Cyrela inaugurado em 2010 no eco-bairro da Península (mérito da C.Hosken) e nem coleta seletiva temos. Dia de chuva e o sistema de irrigação dos jardins aciona automaticamente e jorra água pra tudo que é lado... Horário de verão e o sistema automático liga as luzes da piscina...

A verdade é que o consumidor final tem dificuldade de tangibilizar os ganhos futuros que terá com dispositivos sustentáveis, que chegam a encarecer até 2,5% o valor do imóvel. Prefere pagar menos porque não enxerga as economias que serão geradas na cota de condomínio a médio prazo. Dos 28 prédios verdes (LEED) mencionados no artigo do Estadão (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasil-e-o-4-pais-com-mais-predios-sustentaveis-,793127,0.htm), a maioria absoluta é comercial*, não residencial. O controller das empresas calcula facilmente na ponta do lápis os ganhos de energia, água e marketing social corporativo. Daí o dilema das incorporadoras: investir num monte de dispositivos que podem aumentar o custo em até 10% (descargas econômicas, materiais reciclados, captação de água, vidros isotérmicos, elevadores inteligentes) e perder clientela no competitivo mercado residencial? Um dilema a ser contornado por meio da criação de softwares confiáveis que consigam calcular/tangibilizar os ganhos futuros, um marketing ambiental mais agressivo em parceria com fornecedores de materiais de construção e leis que tornem obrigatórios ou desonerem tributariamente esses dispositivos.

(*) WTorre Nações Unidas, WTorre JK, Rochaverá Corporate Offices, Pão de Açúcar Vila Clementino, Hospital Albert Einstein, Edifício Jatobá, Eldorado Business Tower. Na foto, o Eco-Berrini.